Exposição Cemig - Companhia Energética de Minas Gerais 2005.
Exposição Cemig - Companhia Energética de Minas Gerais 2005

Todo ser humano tem em si uma cidade, que, embora imaginária, interior, existe por força de memória ancestral, acumulativa e residual. Como acontece no processo de realização da pintura, ela existe como camadas de tintas, tornando-se imagens que se acumulam e se confundem. Essa é a premissa da mostra Cidades Visíveis, com curadoria de Sandra Bianchi, em cartaz na galeria de arte da Cemig, reunindo trabalhos de alunos dos cursos de artes plásticas (UFMG e UEMG), design (Fumec) e arquitetura (Isabela Hendrix).
Altivo Duarte, Bruno Mitre, Elisa Grossi, José Paulo Neves e Rodrigo Freitas apresentam obras, no mínimo, corretas.

Merecem atenção especial os trabalhos de Rodrigo Freitas e Bruno Mitre, que trazem visões antagônicas do motivo eleito. O primeiro traz um conjunto de pinturas admiráveis. Trabalha com massas de tintas, mostrando a metrópole contemporânea como construção épica. Mas, no lugar do louvor civiizatório, revela a dramaticidade implícita desses mundos de concreto, hoje algo crepusculares. Mitre, com desenhos-pínturas (ou vice-versa), propõe visualidade construída com gestos no limite entre o calculado e o improviso, O mote é o desmonte da imagem da cidade, até ela se tornar apenas um batimento de evocação de formas e situações urbanas.

Para fazer soar a dimensão "metafísica" da cidade, Rogério Freitas vale-se da linguagem (e até de composições) do alemão Anselm Kieffer, citado explicitamente. O que poderia ser um problema, pela qualidade dos resultados, torna-se mérito: é gesto de ousadia um jovem autor enfrentar linguagem densa e rica de simbolismos de um dos mais importantes pintores vivos. Os desenhos de Bruno Mitre sugerem terrenos, construções, ruas mas são corpo à experiência de desequilíbrios (ou de equilíbrios frágeis), onde pontificam imagens de estabilidade. Desafio a ser enfrentado é certa oscilação - ela faz com que em certos momentos, as obras resvalem para efeitos visuais.

Dá gosto ver os progressos artísticos em relaçaõ a outros momentos, tanto de Rogério quanto de Bruno. Em tempo: com relação a mostras de estudantes de arte (Belo Horizonte tem várias delas na programação), o melhor é aproveitar os bons momentos de estudos e pesquisas. E não ficar esperando que os jovens alunos "cresçam".

Estado de Minas
Sexta Feira, 7 de outubro de 2005.
Walter Sebastião